No mês passado, uma audiência na Câmara
Federal foi palco de discussões acaloradas sobre o tema “cura gay”. O deputado
Ronaldo Fonseca (PR-DF) reclama que, segundo ele, há “um grupinho” que deseja
“criar uma ditadura gay no Brasil”.
Mas
ele deixa claro que os evangélicos continuarão marcando posição: “Eu não acho
que os homossexuais são doentes, acho que são mal orientados, porque a
sexualidade é uma orientação. Nós vivemos num país livre, ninguém pode ser
condenado por virar homossexual, mas tem um grupinho que quer impor para a
sociedade um terceiro gênero. Isso não existe. Eles estão querendo criar uma
ditadura gay no Brasil e não vamos aceitar”.
O
deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), possivelmente o principal defensor dos
homossexuais no Congresso lamenta a dificuldade de o país aceitar a luta do
movimento.”A relação de uma pessoa homossexual consigo mesma numa cultura de
opressão é de vergonha e culpa. O que isso vai fazer é, no mínimo, um estrago
na psique homossexual. Vai fortalecer a vergonha e a culpa”.
Nesta
semana, o projeto de Decreto Legislativo nº 234/2011 de João Campos (PSDB-GO),
deve ser votado na Comissão de Seguridade Social e Família e, se aprovado, irá
para a Comissão de Constituição e Justiça. Sua proposta é a revogação da
decisão do Conselho Federal de Psicologia que não permite “cura” aos gays. Os
parlamentares ligados a movimentos evangélicos dizem que os psicólogos estão
sendo coagidos.
Roberto
de Lucena (PV-SP), relator do projeto, deu voto favorável à revogação e
criticou o Conselho de Psicologia: “As autarquias não têm competência para
emitir resoluções que interfiram no exercício do profissional e na liberdade
dos profissionais em participar de serviços ou de expressar seus pensamentos,
descobertas e conhecimentos. O projeto objetiva, apenas, impedir que o Conselho
exerça uma ação coercitiva e de censura com os psicólogos, especialmente em
suas manifestações públicas”.
Ele
defende que a bancada evangélica quer apenas garantir que os psicólogos possam
se expressar sobre a possível reversão do homossexualismo ou outro assunto
qualquer, sem a ameaça de verem seus registros profissionais cassados.
Segundo
a vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia, Clara Goldman, os
profissionais da psicologia são proibidos de “curar” o homossexualismo,
simplesmente porque isso não é mais considerado uma doença pela Organização
Mundial de Saúde (OMS). Clara pede união de outros conselhos para impedir a
aprovação da lei.
“Apesar
da sociedade brasileira e do mundo reconhecer que homossexualidade não é doença,
existe um movimento contestador que pretende tratá-la como tal e propor a cura.
Precisamos fazer um enfrentamento competente e poderoso contra isso. O
pensamento conservador é homofóbico porque, além de tentar retroceder, ele
propõe a cura. As terapias são inaceitáveis e não têm nenhuma base científica.
Os conselhos profissionais devem se unir e tomar posições firmes em
rechaçá-las”, enfatiza
Toni
Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transexuais (ABGLT), continua criticando a “bancada evangélica” e a
classificando de homofóbica e fundamentalista.
Ao
fazer um balanço da luta pelos direitos gays, concluiu: “Esse movimento
fundamentalista religioso tem pressionado o Executivo e o Legislativo contra as
demandas da nossa comunidade. Não estamos percebendo uma defesa, a
criminalização da homofobia não foi aprovada e aumentaram em 77% as denúncias
de crimes contra homossexuais. O saldo é muito negativo em 2012, não temos nada
a comemorar, só reivindicar”.
Fonte: Portal Terra/ADIBERJ
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